segunda-feira, 28 de novembro de 2022

História real e imaginária das ferrovias do Brasil (i). Jonas Alexandre Xerém da Silva – JAXS.

Pôster das ferrovias de 1942.

Olá pessoal. A história a seguir tem a parte real e a parte imaginária. Eu acrescentei alguns fatos que são imaginação minha, por exemplo, ferrovias que não foram construídas, etc. Há imagens que foram coletadas do Google e algumas foram alteradas para representar o Brasil imaginário. E tem os mapas que eu fiz por exemplo.

Bem-vindo as ferrovias do Brasil como você nunca viu.

 

O primeiro incentivo à construção de ferrovias no Brasil se deu em 1828, quando o governo imperial promulgou a primeira carta de lei incentivando as estradas em geral. A primeira tentativa de fato de implantação de uma estrada de ferro no Brasil deu-se com a criação de uma empresa anglo-brasileira no Rio de Janeiro em 1832 que queria ligar a cidade de Porto Feliz ao porto de Santos. Essa ferrovia tinha por fim transportar cargas do interior para o porto e diminuir os custos de exportação. O governo imperial, no entanto, não apoiou o projeto e ele não foi levado adiante.

Três anos depois, em 1835, o regente Diogo Antônio Feijó promulgou a Lei Imperial n.º 101, que incentivava a implantação ferroviária brasileira, concedendo privilégios por 40 anos a quem construísse e explorasse estradas de ferro ligando o Rio de Janeiro às outras províncias. Apesar dos incentivos, nenhum investidor se arriscou, pois as garantias eram poucas de que haveria um lucro substancial. A Lei 101, também conhecida como Decreto Feijó, foi a base para que outros grupos empresariais fizessem projetos e estudos para fazer a primeira ferrovia no Brasil. Um desses grupos, desta vez em São Paulo em 1836, formado por brasileiros e ingleses, também não conseguiu colocar em prática o projeto. Em 1842 o governo imperial em parceria com fazendeiros e capitalistas do Brasil iniciaram os projetos dos primeiros traçados das ferrovias no país, a primeira delas a linha da cidade do Rio de Janeiro a Petrópolis. A bitola escolhida foi a de 1,600 mm. Em 1848 foi criada a Estrada de Ferro Leopoldina planejada por Irineu Evangelista de Souza, e no ano seguinte iniciou-se a construção da linha da cidade do Rio de Janeiro á Petrópolis, concluída 1850.


Uma das grandes ferrovias a serem criadas para integrar o Brasil foram a Estrada de Ferro Leopoldina, Pacitlântico, Central do Brasil, Sorocabana e outras, que tiveram suas construções iniciadas no final dos anos 1840 e início de 1850. O interesse pelas ferrovias foi grande que muitos capitalistas e fazendeiros investiram nelas para o transporte de passageiros, café, gado, madeira e outros produtos. Países do exterior, Inglaterra e Grandirsvânia investiram nesse ramo no Brasil. O governo também mostrou interesse em ligar o Brasil aos países vizinhos e ao Oceano Pacífico, primeiramente a Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Em 1857, o telégrafo foi inaugurado no Brasil e utilizado nas linhas férreas, que deveu-se a iniciativa de Irineu Evangelista de Souza. Com o início das ferrovias foram surgindo as primeiras fábricas e siderúrgicas nas províncias do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e outras. Em 1866 foi concluída a linha da Pacitlântico da cidade do Rio de Janeiro ao Forte Guaporé no Mato Grosso (atualmente no estado do Novo Paraguai) ligando o litoral aos rios Araguaia Teles Pires, Guaporé e Madeira.


A construção de hidrovias e eclusas em rios como o Araguaia e Paraná iniciadas nos anos 1840 foram fundamentais para a construção das ferrovias no Brasil. O governo pretendia expandir as ferrovias na região Norte, mas atravessar a floresta amazônica era um desafio difícil e pelas hidrovias era mais acessível.  Em 1867 foi inaugurada a ligação das cidades do Rio de Janeiro a São Paulo pelo Vale do Paraíba. Iniciada em 1861, a linha de Recife (PE) á Estreito (MA) foi concluída em 1866 ligando o litoral nordestino ao rio Tocantins dando acesso á região Norte. Na região Sul foram construídas linhas ligando o litoral ao interior e países vizinhos, como a Companhia América Latina e Companhia Pampas. Com a expansão das vias férreas, houve imigrações para as regiões Nordeste, parte do Sudeste, parte do norte, Centro Oeste e Sul em busca de terra, madeira, ouro e outros minerais. Quando rompeu a Guerra do Paraguai (1864-1870) as ferrovias foram importantes para os transportes das tropas e suprimentos militares aos locais de batalhas. As estradas de ferro Sudeste Oeste, Sorocabana, Oeste e Pampas foram utilizadas durante a guerra. No final dos anos 1870 o Brasil estava conectado do Nordeste ao Centro Oeste, Sudeste e Sul com em torno de vinte e nove mil km.

Mapa das ferrovias em 1880.

Em 1876, o Brasil e a Bolívia foram ligados pela linha de Santos na província de São Paulo á Antofagasta apesar da bitola da Bolívia ser de 1,000 mm por causa da Cordilheira dos Andes, essa foi a primeira linha a conectar o Brasil ao Oceano Pacífico. Em 1880 foi inaugurada a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Boa Vista (atual capital de Roraima) na província do Amazonas que fez a ligação do Brasil com a Venezuela. Em 1878, a Atlântico Norte Centro ligou o Piauí a Goiás, tendo acesso para São Paulo e a região Sul.

No início do século XX, novas ferrovias começaram a ser construídas, uma delas a Trans Amazônica, que era conhecida como Madeira Mamoré foi construída de 1907 a 1912 de Porto Velho a Guajará Mirim para o transporte da borracha, fazendo a ligação com a Bolívia. Em 1927 expandiram a ferrovia no Acre e se conectou com a malha do Peru. Na mesma época, a Novoeste construiu a linha de Bauru (SP) á Corumbá no Mato Grosso do Sul, passando em Campo Grande (MS), e fazendo uma nova ligação entre Brasil e Bolívia. Com o surgimento da indústria de veículos e a modernização das rodovias no final dos anos 1910, os governos federais e estaduais não deixaram de investir em ferrovias. Juntas, elas permitiram ainda mais o crescimento do país tanto no setor industrial quanto agrícola. Em 1907, O Brasil, Argentina e Chile iniciaram a construção da ferrovia transcontinental para ligar os países e os oceanos Atlântico e Pacífico. Em 1915 a ferrovia foi inaugurada, ligando Paranaguá no Paraná á Antofagasta no Chile com a bitola de 1,000 mm. Essa foi a primeira ferrovia a conectar o Brasil ao Pacífico com a mesma bitola.


Nos anos 1920, o Brasil adotou locomotivas elétricas, a primeira linha a ser eletrificada foi a de Santos á Araraquara (SP) da Companhia São Paulo. No Sudeste Nos anos 1930 com o avanço da irrigação na região Nordeste iniciada na década anterior, novas ferrovias foram construídas para atender a agricultura e pecuária em quase todos os estados da região. No governo de Getúlio Vargas (1930-1945) nos anos 1930 foram construídas três grandes pontes rodo ferroviárias; na baía de Guanabara entre Rio de Janeiro e Niterói (RJ) e na baía de São Marcos entre São Luís e Alcântara (MA). Nos anos 1940, a linha do Rio de Janeiro (RJ) á São Paulo (SP) da Estrada de Ferro Central do Brasil foi eletrificada. Um dos grandes desafios da engenharia brasileira foram as construções das linhas de Corumbá á Coxim (MS) e á Cuiabá (MT) iniciadas em 1940 na planície pantaneira pela Companhia Trans Pantanal e concluídas em 1944.


Mapa das ferrovias em 1940.

Em 1954 e 1955 foram compradas locomotivas a diesel dos Estados Unidos que substituíram algumas locomotivas a vapor. Em 1955, a ferrovia Pacitlântico ligou o Brasil e a Colômbia do Atlântico ao Pacífico com a mesma bitola. Nessa época, a Noroeste do Brasil iniciou sua expansão, ligando Roraima, Amazonas e Rondônia. A partir dessa época as ferrovias começaram a expandir na região Norte, como a linhas de Santana a Serra do Navio no Amapá pela Amazônia Norte concluída em 1957 e a ligação com a Guiana Oriental ou Francesa concluída em 1962 com a bitola de 1,435 mm. Nos anos 1960, a companhia Norte Sul construiu as linhas de Belém (PA) a Macapá (AP) e á Altamira no estado de Granrrios (GR).


Foram nos anos 1970 que as ferrovias ganharam impulso na região norte sendo elas, a Amazônia Norte, Ferronorte, Trans Amazônica, Norte, Norte Sul, Noroeste do Brasil e Pacitlântico. No Centro Oeste também houve a expansão de ferrovias como a Ferronorte e Companhia Araguaia Uruguai. As empresas C.A.U, Companhia América Latina e Pampas foram as primeiras e contribuíram para o transporte de soja no final dos anos 1970.


Pôster das ferrovias, 1961.

Nos anos 1980, a região Norte já possuía uma extensa malha ferroviária ligando á com as outras partes do Brasil. As únicas linhas de bitola de 1,435 mm são da Amazônia Norte, e a linha de bitola mista de 1,435 e 1,600 mm da Noroeste do Brasil, de São Paulo de Olivença no Solimões a Feijó no Acre, e de Boa Vista á Bonfim em Roraima, sendo que as ferrovias do Peru, Guiana e Venezuela também possuem a bitola de 1,435 mm. Na mesma época, a Estrada de Ferro Carajás e a Companhia Ferroviária do Nordeste construíram suas linhas á Parauapebas no estado do Carajás para o transporte de minério de ferro. Nas regiões Nordeste, Centro Oeste e Sul surgiram novas ferrovias principalmente no Nordeste e parte da região Norte, devido o aumento do cultivo de cana de açúcar para a produção de álcool.

Nos anos 1990 e 2000, a malha expandiu ainda mais nas regiões Norte e Centro Oeste aumentando ainda mais o transporte das safras de soja e milho para o exterior, mas houve críticas e protestos no Brasil e em alguns países de que o aumento do desmatamento estava prejudicando a floresta amazônica e poderia causar prejuízos a saúde e que isso tinha que parar. Nessa época, a Norte Sul conectou o Pará ao Rio Grande do Sul, se tornando uma transcontinental. A última ferrovia a ser construída foi de Cocalinho no Mato Grosso a Comodoro no Novo Paraguai, de 2015 a 2019.

Locomotiva da A.L.L Rumo no estado de São Paulo, 2011.

Mapa atual da malha ferroviária do Brasil, 2022.

Atualmente, o Brasil possui em torno de 200.000 km de ferrovias, sendo a segunda mais extensa do mundo, integrando todo o país e sendo fundamental no transporte de cargas e passageiros. As empresas ferroviárias investem na cultura, meio ambiente, oferecem cursos e outros. 

Esse seria o Brasil dos meus sonhos. Como muitos sabem, nossas ferrovias estão em uma situação triste e difícil. Novas linhas sendo construídas e as mais antigas ficando para trás, e nem sequer temos uma transcontinental. Faço uma homenagem aos maquinistas, aos trabalhadores e engenheiros, ás antigas companhias, aos projetos que não se tornaram realidade, os sonhos que não foram realizados, aos tempos dourados das belas viagens de trens, ás ferrovias que infelizmente foram abandonadas e erradicadas, ás outras partes e povos brasileiros que não tiveram a oportunidade de ter uma ferrovia, ás locomotivas que foram esquecidas e abandonadas, a todos que deixaram suas marcas e legados na ferrovia, e as pessoas que tiveram as boas lembranças e sentem saudades.

Era uma vez um sonho ferroviário...

 

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Pix: 033 064 281 24. Jonas Alexandre Xerém da Silva.











 





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